Museu dos Países Baixos vai inspirar memória das cheias em Porto Alegre

23/02/2025 14:11
Cesar Lopes / PMPA
Executivo
Museu preserva a memória da enchente de 1953 que fez mais de 1,8 mil vítimas nos Países Baixos

Costa de Delfland, Rotterdam, Ouwerkerk e Middelburg foram os destinos da comitiva gaúcha nos Países Baixos neste domingo, 23. O roteiro percorreu a área litorânea para conhecer inovações como o Sand Motor (motor de areia), criado para fortalecer a proteção costeira, e intervenções integrantes do Delta Works, conjunto de represas, diques, comportas e barreiras móveis que protege a região portuária. Outro ponto de visita foi o museu que consolida a memória da enchente de 1953, o Watersnoodmuseum (localizado na vila Ouwerkerk).

Conforme o prefeito Sebastião Melo, a visita vai inspirar parte da programação alusiva à superação e solidariedade que marcará  o primeiro ano da enchente de maio, na qual a prefeitura já vem trabalhando. 

''Aqui vemos concretamente como as catástrofes naturais holandesas foram geradoras de transformações na infraestrutura de proteção. Porto Alegre e o Rio Grande também trabalham incansavelmente em soluções na reconstrução. Preservar essa memória de aprendizado e informação é essencial para esta e as futuras gerações” - Prefeito Sebastião Melo. 

A intenção é também resgatar o histórico da enchente de 1941 na Capital, dedicando ala do Museu de Arte de Porto Alegre (então Paço Municipal) para reunir informações sobre os dois grandes marcos. “Falei daqui com a Secretaria da Cultura e vamos aproveitar referências para conceber uma mostra que honre essa memória”, completou.

Memória - Localizado no vilarejo Ouwerkerk, na província Zeeland e a cerca de 45 quilômetros de Middelburg, o museu Watersnoodmuseum é dedicado ao desastre de 1º de fevereiro de 1953, quando 1.836 pessoas perderam a vida devido à inundação. O museu está instalado em quatro grandes caixões de concreto utilizados para fechar o último rompimento do dique após a enchente. Cada seção aborda diferentes aspectos do desastre: fatos, emoções, reconstrução e o futuro da gestão hídrica nos Países Baixos.  

Professora da universidade holandesa TU Delft Taaneha Bacchin foi a anfitriã da agenda no Sand Engine e contextualizou essa trajetória de aprendizado dos Países Baixos. “As inovações aconteceram em resposta a catástrofes: Delta Works, em resposta à enchente de 1953; e o Room for the river, após as inundações de 1993 e 1995. Com a premissa de trabalhar com a natureza e não contra”, disse.

Motor de areia - O projeto Sand Engine (Motor de areia) faz parte da abordagem holandesa de “trabalhar com a natureza”, sendo um modelo inovador para a gestão costeira em outras partes do mundo. “Fizemos uma linha perpendicular de areia, em um projeto de implementação rápida em 2011, que durou dois anos. É multifuncional porque cria uma paisagem, integra natureza em ambiente de multiuso para a população”, agregou Taaneha.

Realizado na costa de Delfland, Holanda, consiste em um banco de areia artificial criado com 21,5 milhões de metros cúbicos de areia retirada do Mar do Norte, com a proposta de permitir que as ondas, o vento e a correnteza espalhassem naturalmente a areia ao longo da costa, favorecendo o crescimento das dunas e da praia. A transformação contempla uma manutenção prevista a cada 20 anos, não mais em cinco anos, o que também representa benefícios econômicos. 

Cesar Lopes / PMPA
Executivo
Roteiro percorreu a área litorânea para conhecer inovações

Delta Works -  O projeto reúne um conjunto de represas, diques e barreiras para proteger a região portuária de enchentes e elevação do nível do mar. A comitiva visitou também um dos pontos mais simbólicos desse sistema, que a é a barreira móvel do Porto de Rotterdam, chamada de Maeslantkering. O equipamento tem a função de proteger a cidade e a infraestrutura portuária contra inundações causadas por tempestades e aumento do nível do mar.

Gestão sustentável - O penúltimo ponto do roteiro foi o Molenwaterpark, parque urbano no centro de Middelburg (província de Zeeland). Na cidade, a comitiva foi recebida pelo vice-prefeito de Middelburg, Jeroen Louws. Com capacidade para armazenar até 2 mil metros cúbicos de água, o parque coleta e armazena a água da chuva das áreas circundantes em lagoas e sistemas de valas (wadis). Isso alivia o sistema de esgoto durante chuvas intensas e ajuda a prevenir inundações nas áreas baixas da cidade. Em Porto Alegre, há cerca de 50 bacias públicas de retenção de água da chuva, com mais de 200 mil metros cúbicos de capacidade total.

Missão - As comitivas da Prefeitura de Porto Alegre e do Governo do Estado viajaram a convite do governo dos Países Baixos para ampliar a cooperação no âmbito das ações de enfrentamento às enchentes. Organizada pela Embaixada do Reino dos Países Baixos no Brasil e pelo Netherlands Business Support Office Porto Alegre (NBSO Porto Alegre), a missão tem como anfitrião Caspar van Rijnbach, chefe do Netherlands Business Support Office Porto Alegre. 

Agenda - Nesta segunda-feira, 24, a agenda será dedicada à programação na universidade TU Delft, contratada da prefeitura para desenvolver o projeto para as ilhas, e o instituto Deltares, dedicado a soluções inovadoras em áreas como gestão da água, engenharia costeira, proteção contra inundações e sustentabilidade ambiental. À noite, o prefeito Sebastião Melo e o governador Eduardo Leite participam de recepção a convite do embaixador do Brasil nos Países Baixos, Fernando Magalhães.

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Carolina Seeger

Lissandra Mendonça