Casos de febre amarela reforçam importância da vacina no Sul
Antes da chegada do verão de 2020, pessoas que residem na região Sul do Brasil que não foram vacinadas contra febre amarela devem ser imunizadas. A recomendação é do Ministério da Saúde (MS).
O plano de ação para monitoramento do período sazonal da doença – maior incidência entre dezembro e maio -, avaliação de risco e priorização das áreas de vacinação foi construído a partir de estudos que indicam a previsão das potenciais rotas de dispersão do vírus da doença no país e da ocorrência de casos da doença em primatas não humanos (PNH) e humanos e à baixa cobertura vacinal na região Sul.
Devem ser vacinados bebês, crianças, adolescentes e adultos entre nove meses e 60 anos incompletos. “A partir dos 60 anos, a avaliação entre risco e benefício deve ser feita por médico”, exalta o médico da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Juarez Cunha. O esquema previsto no calendário oficial é de uma dose da vacina. Na Capital, a cobertura vacinal de 2018 ficou em 41,55%. Entre janeiro e julho de 2018, o índice foi de 39,4%; em 2019, no mesmo período, chega a 46,28%.
Na rede municipal, a vacina contra febre amarela é oferecida atualmente em 137 salas de vacina instaladas em unidades de saúde. “Não há necessidade de agendamento e o estoque do imunobiológico está normalizado”, explica a enfermeira Renata Capponi, chefe do Núcleo de Imunizações da SMS.
De acordo com a recomendação do MS, a imunização deve ser prioritária entre a população de área rural, ribeirinhas e do entorno de parques e unidades de conservação, trabalhadores rurais, agropecuários, extrativistas e de meio ambiente, viajantes para áreas afetadas, seja trabalhadores ou turistas, além daqueles que residem em áreas com confirmação da circulação do vírus.
A Nota Informativa 169 do MS reforça que o ciclo de febre amarela observado no país é silvestre – os últimos casos de ciclo registrados no Brasil são da década de 1940. A doença é considerada endêmica na região Amazônica, mas nos últimos 20 anos o ressurgimento do vírus tem sido observado em outras regiões do país. A mais recente é de 2014, e os seus efeitos ainda permanecem ativos.
No documento, é frisado que as áreas afetadas nos últimos anos eram indenes, ou seja, onde o vírus não era registrado, como os extremos leste e sul do país, incluindo uma área ampla da Mata Atlântica.
Rota de dispersão - No monitoramento 2014/2015 (julho a julho) o reaparecimento do vírus foi identificado em PNH no Tocantins, fora da área considerada endêmica, chegando a Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais. Em 2015/2016, o vírus foi identificado no Sudeste (oeste de São Paulo), estendendo-se para os demais estados da região (MG, SP, ES, RJ) e para a Bahia, no Nordeste. No verão de 2016/2017, foi observado que o vírus se aproximou de áreas metropolitanas densamente povoadas, com populações não vacinadas e com alta infestação do mosquito vetor do ciclo urbano da doença, o Aedes aegypti.
Sul do Brasil - Entre 2017/2018 o vírus persistiu na região, “indicando potencial de dispersão para a Região Sul”, de acordo com a Nota Informativa 169, o que foi confirmado no monitoramento 2018/2019: além da manutenção da transmissão no Sudeste (MG, RJ SP), o vírus foi detectado no Paraná (janeiro de 2019) e em Santa Catarina (março deste ano).
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2019 foram confirmadas 111 epizootias em PNH e 91 casos humanos de febre amarela no Sudeste e região Sul, com registro de 19 óbitos (letalidade de 20,9%). Do total, 77 casos são de São Paulo, 12 do Paraná e dois de Santa Catarina. Não há registros de casos humanos de febre amarela no Rio Grande do Sul. “Por isso é importante aumentar a cobertura vacinal da população, que está suscetível ao vírus”, enfatiza Juarez Cunha. “Com o aumento da cobertura, diminui o número da população suscetível, o que pode prevenir surtos e óbitos pela doença”, destaca o médico da SMS.
O Plano de Ação prevê que as coberturas vacinais das regiões prioritárias, como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sejam aumentadas antes do verão, quando a transmissão do vírus deve aumentar em função do clima. De acordo com os estudos, no Rio Grande do Sul, o vírus da Febre Amarela deve entrar pela região Metropolitana de Porto Alegre e pela região Noroeste do Estado.
Taís Dimer Dihl