Dengue: cem imóveis são pulverizados no bairro Vila São José
Cem imóveis receberam pulverização de inseticida na manhã desta quarta-feira, 1º, em ruas do bairro Vila São José, na Zona Leste. O trabalho, coordenado pela Diretoria de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (DVS/SMS), foi realizado após a confirmação do primeiro caso autóctone de dengue (paciente residente na região sem histórico de viagem) na cidade em 2023.
A decisão de fazer o bloqueio químico também decorre da confirmação do sorotipo do vírus da dengue em exame laboratorial, o DENV-2. A série histórica da doença em Porto Alegre indica circulação do sorotipo DENV-1. O vírus da dengue apresenta quatro sorotipos, em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Todos são transmitidos pela picada de uma fêmea também infectada com os vírus do mosquito Aedes aegypti.
“Uma pessoa pode ter até quatro ocorrências de dengue na sua vida, sempre por um sorotipo diferente”, explica a enfermeira Raquel Rosa, chefe da Equipe de Vigilância de Doenças Transmissíveis da DVS. “Um paciente que já tenha tido dengue uma vez terá maior risco de desenvolver dengue grave em futura infecção, por sorotipo diferente”, enfatiza a técnica da vigilância epidemiológica.
A pulverização de inseticida é realizada pela prefeitura para diminuir ou interromper o ciclo de transmissão viral em uma região ao reduzir a densidade de mosquitos adultos na área. A aplicação é chamada controle químico de mosquitos adultos. Como não se trata de uma ação para desinsetização de alguma área, não é possível solicitar aplicação do inseticida à prefeitura. Saiba mais aqui.
Avaliação - A operação é realizada mediante avaliação técnica da DVS/SMS. “A aplicação de inseticida é indicada em situações muito específicas e tem por objetivo diminuir a população de mosquitos adultos. Ressaltamos que a ação mais efetiva a ser feita nas comunidades é a eliminação de depósitos de água parada que servem como criadouros, para evitar o nascimento de novos mosquitos”, destaca a diretora adjunta da DVS, Fernanda Fernandes, que acompanhou o trabalho na Vila São José.
Mosquito - O Aedes aegypti tem se caracterizado no Brasil e em Porto Alegre, em particular, como um inseto de comportamento estritamente urbano, sendo raro encontrar amostras de seus ovos ou larvas em reservatórios de água nas matas. Por sua presença no ciclo de transmissão da doença, qualquer epidemia de dengue está diretamente relacionada à concentração da densidade do mosquito, ou seja, quanto mais insetos, maior a probabilidade delas ocorrerem. Por isso, é importante conhecer os hábitos do mosquito, a fim de combatê-lo como forma de prevenção da doença.
Os ovos não são postos diretamente na água limpa, mas milímetros acima de sua superfície, em recipientes tais como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d’água descobertas, pratos de vasos de plantas ou qualquer outro que possa armazenar água de chuva. Quando chove, o nível da água sobe, entra em contato com os ovos e esses eclodem em poucos minutos. Em um período que varia entre cinco e sete dias, a larva passa por quatro fases até dar origem a um novo mosquito. A densidade natural do Aedes aegypti é maior no verão, pois há mais volume de chuva, que aumenta a oferta de criadouros onde a fêmea pode deixar seus ovos, e altas temperaturas, que aceleram o desenvolvimento do mosquito entre as fases de ovo-larva-adulto.
As fêmeas do Aedes aegypti costumam viver dentro das casas em ambientes escuros e baixos (sob mesas, cadeiras, armários etc.), onde podem ser encontradas temperaturas (que variam entre 24 e 28°C) e umidades apropriadas para o mosquito adulto.
Elas se alimentam da seiva de plantas e picam o ser humano em busca de sangue para maturar seus ovos. Em média, cada mosquito vive em torno de 30 dias e a fêmea chega a colocar entre 150 e 200 ovos a cada ciclo de oviposição, que compreende quatro a cinco dias. Apesar da cópula com o macho ser realizada, em geral, uma única vez, a fêmea é capaz de fazer inúmeras posturas de ovos no decorrer de sua vida, já que armazena os espermatozoides em reservatórios presentes dentro do aparelho reprodutor. Uma vez contaminada com o vírus da dengue, após um período de oito a 12 dias de incubação, a fêmea torna-se vetor permanente da doença. De acordo com informação da função Oswaldo Cruz (Fiocruz), a probabilidade das crias nascerem infectadas é entre 30% e 40%.
Lissandra Mendonça