HPS realiza primeiro transplante de membrana amniótica em criança para tratamento de queimaduras
O Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre realizou na sexta-feira, 14, o primeiro transplante de membrana amniótica em uma criança no Brasil após a incorporação oficial da técnica pelo Ministério da Saúde ao SUS, em junho deste ano. O procedimento representa um marco no cuidado ao paciente queimado e inaugura uma nova perspectiva de tratamento para casos pediátricos e adultos de média e alta complexidade.
A terapia regenerativa, considerada inovadora e aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) em maio de 2025, foi incluída no Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes e já é vista como um divisor de águas na assistência às vítimas de queimaduras no país. A membrana amniótica é um tecido coletado durante o parto, mediante autorização da gestante, e possui propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas e altamente cicatrizantes, funcionando como uma barreira protetora contra bactérias e agentes infecciosos.
Embora o uso da membrana amniótica em queimaduras já ocorresse no Brasil desde a década de 2000, os procedimentos eram realizados de forma excepcional, mediante autorização pontual dos hospitais para situações de urgência, já que não havia regulamentação oficial. Com a publicação do novo marco regulatório do SNT, em 2025, o transplante de membrana amniótica passou a ter regras claras, padronização de critérios, segurança ampliada e oferta assegurada pelo SUS.
Desta forma, o Estado, capitaneado por Porto Alegre, é o primeiro a contar com um fluxo estruturado e regular para indicação, coleta, processamento e utilização da membrana amniótica, ampliando o acesso dos pacientes e fortalecendo a segurança dos serviços que realizam o procedimento.
Primeiro caso pediátrico - O paciente é uma criança de 1 ano, natural de Mostardas, com queimadura causada por óleo quente, atingindo cerca de 8% da superfície corporal. Ele deu entrada no HPS na manhã do dia 13 e, pela gravidade e localização das lesões, foi imediatamente indicado ao transplante, que idealmente ocorre nas primeiras 48 horas após o acidente, reduzindo riscos de infecção e necessidade de múltiplos curativos.
Liderada pelo cirurgião-plástico Renato Rodrigues, a equipe que realizou o procedimento contou com a cirurgiã plástica Carla Sulzbach; os técnicos de enfermagem Emerson Santos, Raquel Ricarte Duarte e Luana Abreu; o anestesista Luciano Saldana e e o enfermeiro Marcos Portela.
“A cada desbridamento cirúrgico de um paciente queimado, precisamos oferecer uma cobertura substitutiva de pele, seja autoenxerto, matriz dérmica, membrana amniótica ou, por último, coberturas sintéticas, que são de alto custo. A chegada dessa terapia representa um avanço incrível para o HPS e para os nossos pacientes, ampliando possibilidades terapêuticas com um recurso seguro e muito mais acessível”, afirma a diretora do HPS, Tatiana Breyer.
O hospital viabilizou rapidamente o procedimento por meio da articulação entre sua equipe e o banco de tecidos da Santa Casa de Porto Alegre, instituição responsável pela captação, preparação e distribuição da membrana amniótica. Desde outubro, a Santa Casa já realizou 12 captações, cinco em outubro e sete em novembro.
"Com o trabalho especializado do Banco de Tecidos da Santa Casa, estamos presenciando um passo decisivo na captação, processamento e uso da membrana amniótica no tratamento de queimaduras. Esse avanço qualifica o cuidado, amplia o acesso e melhora a recuperação de quem enfrenta uma lesão cutânea'', afirma o coordenador do Banco de Tecidos da Santa Casa de Porto Alegre, Eduardo Chem.
O Ministério da Saúde determinou que os serviços de saúde têm até 180 dias (a partir de 24 de junho) para implementar a terapia no SUS. A Capital, porém, antecipou-se e já realizou o procedimento em pleno alinhamento com a rede de transplantes.
A primeira captação ocorreu em 7 de outubro e o primeiro transplante do Estado foi realizado no dia 5 de novembro, na própria Santa Casa de Porto Alegre. O Hospital Cristo Redentor também já realizou a terapia regenerativa na última semana. O caso do HPS foi o quinto transplante de membrana amniótica em Porto Alegre.
Qualidade do desfecho - Segundo a médica Luciana Barcellos, responsável técnica da Pediatria e da UTI Pediátrica do HPS, o transplante tende a modificar o curso da internação. “No manejo do grande queimado, usamos curativos de longa permanência que possuem custo elevado e são um dos principais insumos no tratamento. Com a membrana amniótica, que é fornecida pelo banco de tecidos sem custo para o hospital, conseguimos substituir esse processo e obter benefícios comprovados: aceleração da cicatrização, redução da dor, diminuição de prurido e retrações, além de menor risco de complicações”, explica.
Em média, um paciente queimado fica 1,3 dia internado para cada 1% de área corporal queimada, ou seja, em um caso de 10% de área atingida, a permanência costuma chegar a 13 dias. A literatura aponta que o uso da membrana pode reduzir até 9 dias desse período.
A membrana permanece aderida por cerca de 14 dias, sem necessidade de troca ou remoção, desaparecendo conforme ocorre a cicatrização. A expectativa é que a criança receba alta antes do 10º dia de internação, caso a evolução se mantenha favorável.
Lissandra Mendonça
