População em situação de rua recebe novo tratamento para hepatite C

07/06/2023 17:14
Cristine Rochol/PMPA
SMS
Medicação utilizada no SUS é de última geração, sem efeitos colaterais, e deve ser administrada por 84 dias

Osvaldo Roberto Silva, 59 anos, é a primeira pessoa em situação de rua a começar o novo tratamento para hepatite C em Porto Alegre pelo programa Teste e Trate da prefeitura. Ele é morador do Abrigo Municipal Marlene, na rua Getúlio Vargas, e recebeu a dose inicial do medicamento na terça-feira. A medicação utilizada no Sistema Único de Saúde (SUS) é de última geração, sem efeitos colaterais, e deve ser administrada por 84 dias seguidos.

A ação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) tem como meta eliminar as hepatites virais como problema de saúde pública até 2030. O trabalho é realizado em conjunto com espaços de assistência social da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e de educação, como a Escola Porto Alegre, da Smed.

Após a testagem de mais de 500 pessoas em situação de rua, foi identificada alta prevalência de infecção por hepatite C, com uma variação entre 6% e 13% nesse público, conforme o local de testagem. A prevalência na população em geral é de 0,7%.

O médico hepatologista Eduardo Emerim, da Coordenação de Atenção a Infecções Sexualmente Transmissíveis, HIV/Aids, Hepatites Virais e Tuberculose (Caist), destaca o pioneirismo de Porto Alegre na testagem e acesso a tratamento de populações vulneráveis.

Cristine Rochol/PMPA
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Capital gaúcha é a primeira do país a colocar a erradicação da hepatite C como prioridade

Segundo ele, existe uma impressão, inclusive entre especialistas, de que a hepatite C está sumindo. “Em locais como abrigos, albergues, centros de atenção psicossocial, instituições de longa permanência e presídios, a prevalência ainda é alta”, avalia. A eliminação do vírus não evita apenas a cirrose, mas reduz a chance de diabetes, AVC, infarto, dores crônicas e até mesmos sintomas mentais como depressão.

A enfermeira da proteção social especial da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Samantha Vasques, avalia que a articulação intersetorial é essencial para o cuidado da população em situação de rua. “Oferecer o medicamento da hepatite C onde o paciente está é imprescindível para a eficácia do tratamento”, afirma.

A coordenadora da Caist, Daila Raenck, lembra que a capital gaúcha foi a primeira do país a colocar a erradicação da hepatite C como prioridade no Plano Municipal de Saúde. “Entre as ações preconizadas pela Organização Mundial da Saúde, definimos populações prioritárias e mais vulnerabilizadas para iniciar esse processo”, explica.

Público prioritário para testagem – Pessoas acima de 40 anos, portadores de diabetes e pessoas que tiveram exposição a sangue e derivados, seja por transfusão de sangue antes de 1993, hemodiálise, uso de drogas ou procedimentos estéticos como piercing e tatuagem, pessoas privadas de liberdade, pessoas que vivem com HIV, homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, trabalhadores do sexo, usuários de álcool e outras drogas e pessoas em situação de rua.

Porto Alegre é a capital do país com maior taxa de detecção de hepatite C, segundo dados do Ministério da Saúde, com 51,1 casos por 100 mil habitantes em 2021. A testagem rápida está disponível de segunda a sexta-feira para toda a população em 132 unidades de saúde e no Serviço de Atendimento Especializado Santa Marta (SAE), localizado na rua Capitão Montanha, 27.

 

Vanessa Conte

Gilmar Martins