Auxílio Moradia devolve dignidade e sonhos à ex-moradora de rua

13/01/2022 09:50
Cesar Lopes / PMPA
Desenvolvimento Social
Após viver nas ruas, Norma foi abordada pela prefeitura e hoje tem onde morar

Depois de quatro meses vivenciando a situação de rua durante a pandemia, Norma da Silva, 65 anos, há sete meses foi incluída no benefício eventual do Auxílio Moradia. O benefício socioassitencial no valor de R$ 500 é a possibilidade de travessia para centenas de pessoas, que assim como Norma, desempregada e sem condições de prover as suas despesas básicas, ganham às ruas como perspectiva de moradia.

Atualmente, mais de 600 pessoas recebem esse benefício em Porto Alegre. Para a presidente da Fundação de Assitencia Social e Cidadania (Fasc), Cátia Lara Martins, o acompanhamento feito pela rede da prefeitura, por meio das equipes abordagem social, centros-pop e Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), é essencial para garantir estratégias de superação da situação de rua, através dos serviços e benefícios oferecidos. “Importante destacar que outras políticas precisam se envolver no processo de superação, como saúde, cultura, educação, habitação e geração de emprego e renda”, afirma Cátia.

Segundo levantamento da Fasc, cerca de 2.5 mil pessoas ainda vivem em situação de rua na Capital. A meta é, até o final desse ano, inserir 50% desse público em projetos sociais. 

História da Norma - Ela conta sobre a mudança de vida que teve desde a abordagem social da equipe técnica da Associação Inter-Comunitária de Atendimento Social (AICAS), conveniada da prefeitura, em março de 2021, quando vivia na Praça Piratini, em frente ao Colégio Estadual Júlio de Castilho. “Foi como um sonho pra mim. Eu dormi no coreto e acordei em uma casa, em uma cama quentinha, recuperei a dignidade e segui reciclando, respeitando o espaço dos outros”, disse.

Uma rede de solidariedade apresentou-se à ela após entrevistas. Enquanto a equipe técnica encaminhava o benefício do Auxílio Moradia, uma senhora a acolheu em uma residência na Zona Sul da Capital.

A história da Norma confunde-se com a de milhares de brasileiros. Ela teve sua criação em Santana do Livramento, cidade de origem da sua família, onde fez cursos de culinária e onde residem os filhos, a quem preservou o segredo enquanto esteve nas ruas da Capital. “A minha família não sabia onde eu parava, onde eu estava. Eles não souberam que estive nas ruas até eu conseguir um novo espaço. Eu não estava naquela condição por que eu queria, mas não tinha motivos para incomodá-los”, relata. 

Cesar Lopes / PMPA
Desenvolvimento Social
atendimento prefeitura

Alternativas para sair da rua - A Coordenadora de projetos AICAS, Cristina Szymanska Donay, chamou a atenção para a importância de pensar na perspectiva de criação de vínculo, resgate familiar, construção de trabalho respeitando a vontade das pessoas.

A área central de Porto Alegre é um dos territórios de atuação que possui mais pessoas em situação de rua. A equipe identifica no espaço de rua, se aproxima numa construção de vínculo. Sempre mostrando que temos opções e alternativas na saída da rua. “Entendemos o que elas querem naquele momento, organização de suas vidas, mas também mostramos enquanto política pública, que há possibilidades. Sempre há possibilidades na lógica da proteção social, para tirá-los da situação de rua, pois a condição é extremamente vulnerável. Ainda mais para um mulher”, declarou Cristina.

O técnico social da AICAS, Willian Ritter, explicou sobre o atendimento e identificação por meio das abordagens sistemáticas, reconhecimento de historias de vida, levantamento de demandas como o pedido de auxilio moradia. “O acompanhamento social vai muito além dos encaminhamentos que fazemos. É um trabalho de conversa, da pensar o que se quer no futuro. E, assim, vamos traçando dia a dia, o que é para cada um, o que faz sentido para cada um”.

Os planos de Norma - Para ela, a rua ensina a ser mais humano, a ter carinho pelas pessoas e aceitar suas condições e limitações. Agora o seu sonho é ter um lar e montar uma cozinha para vender pães e salgados. Há 15 dias, com o dinheiro que recebe fazendo reciclagem de lixo nos bairros Menino Deus, Praia de Belas e Centro Histórico, ela comprou um forno elétrico usado. “Eu reciclo lixo com orgulho e vou realizar o meu sonho assim. Eu quero a minha casinha e montar o meu negócio. Eu vou conseguir. Peço às pessoas que estão na rua, que não desanimem, que não façam coisas erradas, que não usem droga e que tenham amor a sua vida. O que temos que valorizar é a nossa vida”, finaliza Norma.

 

Evelize Fabricio

Lucas Barroso