Mãe social: proteção e muito amor nas Casas Lares de Porto Alegre
Proteção, amor incondicional e elos fortes para a vida são indicadores de que o trabalho das mães sociais fazem a diferença no desenvolvimento emocional e profissional de milhares de crianças e adolescentes de 0 a 18 anos. Mãe social – atividade regulamentada pela lei 7.644/87 - é a denominação das cuidadoras que atuam em Casas Lares da assistência social para cuidar de menores em situação de vulnerabilidade, abandono ou riscos. A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) possui 32 Casas Lares em seu serviços de acolhimento e permanência de Crianças e Adolescentes, ofertando até dez vagas por residência.
As histórias são cheias de superação e gratidão. O casal Ana Dutra Leal, 43 anos, e Flavio Flores da Costa, 53, são pais biológicos de um jovem de 18 anos. Atuam como pais sociais há dez anos na Casa Lar Sagrada Família, que integra a rede parceira da Fasc, por meio do Instituto Pobres Servos da Divina Providência - Abrigo João Paulo II. Na casa ampla, localizada na Zona Sul de Porto Alegre, os seis acolhidos que variam entre 5 e 16 anos descrevem Ana como, simplesmente, “tudo para eles”. Para a estudante, J.G.R, 16 anos, acolhida há oito anos, conta que Ana é uma pessoa muito boa. “Morar aqui na casa é muito bom e estou tendo a oportunidade de realizar um estágio em trabalho remoto, pelo CIEEE”, conta.
Com o amor incondicional de mãe, Ana Leal afirma que a atividade é muito gratificante. Um aprendizado constante. É saber acolher, ter empatia, saber entender o que a criança passou. “É mostrar para eles o que é ter uma família, dar carinho, ensinar, educar.".
Durante a pandemia, o convívio acentuou-se em função do ensino remoto. Os acolhidos têm uma rotina na casa. A família toma café todos os dias juntos, realizam as atividades escolares com o auxílio do casal. “Eles participam. Ajudam a fazer o almoço, no preparo do café. Os maiores conseguem ajudar em casa. Dividem as tarefas”, explica a mãe.
Além de cuidar, ajudar na reeducação, na sociabilização, no preparo para adoções, retorno para sua família e desligamento quando atingem os 18 anos, para a Mãe Social, o mais surpreende é a troca e carinho mútuo. Muitos chegam com medo e aos poucos estão cheios de afeto. “Porque a gente não imagina que consiga dar amor a tanta gente ao mesmo tempo. A preparação para o desligamento também é nossa."
Muitos ex-acolhidos ainda mantêm contato. C.V.A, 21 anos, desligou-se da casa aos 18 anos e conta que os pais acompanham a sua trajetória. Casada, já conquistou a casa própria. A jovem liga, diariamente, para os pais sociais. Para ela, mãe é quem cuida, quem cria e quem ama. Mãe vai muito além de ter ou não o mesmo DNA ou tipo sanguíneo. “A mãe esteve presente em todos os momentos importantes da minha vida até agora, é responsável pela minha formação e pelo o que sou hoje. Eu a amo e agradeço por tudo."
Ana diz que a história deles se misturam. O que é mais gratificante no trabalho é o retorno dos acolhidos. “Saber que estão bem, venceram desafios e estão seguindo as suas vidas. Foram adotados ou voltaram para casa. Que levaram algo de bom daqui”, finaliza.
A presidente da Fasc, Cátia Lara Martins, acredita na maternagem como desejo de cuidar, não tendo nenhuma condição biológica como suporte. “A maternagem é uma escolha. Eu fiz a escolha por meio da adoção tardia. Acredito no amor como conceito universal”, exalta.
Andrea Brasil