Placa do projeto Marcas da Memória é recolocada no antigo Dopinho
A placa que marca o prédio onde funcionou o antigo Dopinho (em alusão ao Departamento de Ordem Política e Social — Dops) foi recolocada na tarde desta quinta-feira, 29. Fixada em agosto de 2015, dentro do projeto Marcas da Memória, a placa havia sido coberta por cimento. Uma nova placa foi feita após acordo do Ministério Público com a moradora do imóvel em 2020.
A placa que denuncia crimes da ditadura militar afixada no passeio público em frente ao casarão da rua Santo Antônio, 600, em Porto Alegre, faz parte do projeto Marcas da Memória, parceria entre o Executivo Municipal e o Movimento de Justiça e Direitos Humanos. O local foi considerado o primeiro centro clandestino de repressão, instaurado pela Ditadura Militar logo após abril de 1964.
“O Dopinho foi fechado em setembro de 1966, após a descoberta do assassinato do sargento Manoel Raimundo Soares, que ficou conhecido como "caso das mãos amarradas", como conta Jair Krischke, fundador e presidente do Movimento por Justiça e Direitos Humanos, que criou o projeto Marcas da Memória.
O secretário Municipal de Desenvolvimento Social, Léo Voigt, representou o prefeito Sebastião Melo no evento. “É muito importante superarmos os traumas do passado sem apagarmos a memória, permitindo que as novas gerações tenham acesso a essas informações”, enfatizou.
O secretário adjunto de Governança, Luciano Marcantônio, que participou da criação do projeto Marcas da Memória, destacou o significado do registro. “Eu tenho uma identificação profunda com ações que preservam os acontecimentos da nossa história. Tive a maior honra em receber o projeto Marcas na Memória do Jair Krischke. Na época, fiquei orgulhoso de fazer parte desse projeto”. Jair Krischke solicitou aos secretários presentes a retomada da pesquisa para o projeto. A Câmara de Vereadores foi representada pelo vereador Pedro Ruas.
Marcas da Memória - O projeto Marcas da Memória se propõe a formar a cultura material de desvendamento da repressão. Locais que tenham servido como prisões ou centros de detenção, de tortura e de desaparecimentos de pessoas são assinalados na paisagem urbana, tornando público que ali aconteceram graves violações aos direitos humanos. No total, nove placas estão espalhadas em Porto Alegre para indicar lugares em que ocorreram crimes da repressão.
Jair Krischke também prestou uma homenagem ao político e advogado João Carlos Bona Garcia, recentemente falecido, com a entrega do troféu Pomba da Paz aos filhos dele. Bona, como era conhecido, foi preso e torturado na ditadura militar.
Demais locais com placas identificadoras do projeto:
- Praça Raul Pilla, local do antigo quartel da 6ª Companhia de Polícia do Exército;
- Calçada em frente ao Colégio Estadual Paulo da Gama, local que serviu como presídio militar especial;
- Calçada em frente ao Palácio da Polícia, que abrigou presos políticos durante o regime militar, com ocorrência de tortura e homicídios nas salas em que funcionaram o Dops (Departamento de Ordem Política e Social);
- Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), onde foram detidos mais de 300 presos políticos nos primeiros meses da ditadura militar;
- Em frente ao número 4.592 da avenida Bento Gonçalves. No local, funcionou o quartel do 18º Regimento de Infantaria, que era conhecido como “cela do boi preto”;
- Calçada em frente ao Presídio Central, espaço para prisões arbitrárias, torturas e mortes de presos políticos;
- Calçada em frente ao Cais da Vila Assunção, no número 154 da avenida Guaíba. Na localidade, aportavam barcos que conduziram mais de uma centena de presos políticos à Ilha do Presídio;
- Presídio Feminino Madre Pelletier, onde houve brutalidade física e emocional contra mulheres que faziam militância política.
Andrea Brasil