As redes de ensino do Rio Grande do Sul viveram, nos últimos anos, uma combinação inédita de desafios: defasagens acumuladas, interrupções prolongadas e, mais recentemente, a destruição causada pelas enchentes. A soma desses fatores aprofundou desigualdades e evidenciou algo incontornável: recompor a aprendizagem é uma tarefa urgente e inadiável.

Em Porto Alegre, essa recomposição tem sido tratada com estratégia e foco. Um dos exemplos é o Avança POA, que atende 15 escolas com turmas de estudantes dos anos finais que ainda não estão alfabetizados. Utilizando a metodologia Teaching at the Right Level, o programa parte do nível real de cada estudante e busca consolidar a alfabetização até o fim do ano, enfrentando diretamente uma das defasagens mais graves deixadas tanto pelo período pandêmico quanto pelas enchentes.

Também definimos um currículo priorizado, que orienta o trabalho pedagógico para as habilidades essenciais, e que foi integrado ao novo módulo do Sistema de Informações Educacionais, para apoiar o seu uso efetivo pelos professores. O Laboratório de Aprendizagem ampliou público e carga horária, garantindo mais tempo de atendimento para quem mais precisa. Cada escola elaborou um plano de ação baseado em avaliação diagnóstica, com metas claras de participação e de melhoria nas avaliações externas.

Outra iniciativa central é o Porto do Saber, programa voltado à recuperação e ao fortalecimento das competências de leitura, escrita e matemática. Com atividades de contraturno alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a ação deve beneficiar mais de 10 mil estudantes da Capital. Em uma rede que enfrenta perdas profundas e urgências históricas, o Porto do Saber simboliza a decisão de não deixar ninguém para trás. É uma intervenção robusta, planejada e baseada em evidências, que devolve aos alunos não apenas aprendizagens, mas confiança, autoestima e possibilidade real de avançar.

Para fortalecer o trabalho docente, promovemos seminários de boas práticas, valorizando iniciativas que já apresentam impacto concreto na aprendizagem. Oferecemos formação, por meio de parcerias, às professoras referência do 5º ano e aos docentes de Língua Portuguesa e Matemática do 9º ano, com materiais estruturados que asseguram o domínio das habilidades mínimas. Paralelamente, uma trilha formativa para supervisores reforça a atuação pedagógica no chão da escola.

Recompor a aprendizagem é reconstruir caminhos. É garantir que, mesmo diante das perdas provocadas pela pandemia e pelas enchentes, nossas crianças e jovens tenham a chance de avançar com solidez e esperança.

Leonardo Pascoal
Secretário municipal de Educação de Porto Alegre

Artigo publicado na edição de 1º de dezembro do jornal Correio do Povo