Seminário debate interculturalidade na saúde de migrantes e indígenas
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promove nesta quarta-feira, 4, o segundo encontro do Seminário Interculturalidade em Saúde, que reúne equipes de profissionais e estudantes para qualificar o atendimento voltado a migrantes e povos indígenas. Com a participação de palestrantes do Brasil e exterior, o evento teve início terça-feira, 3, no Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Entre os temas estão os desafios identitários em saúde no contato intercultural, os efeitos psicossociais do racismo e da xenofobia e os desafios de profissionais migrantes na promoção da saúde. A abertura contou com a participação da diretora de Atenção Primária da SMS, Vânia Frantz, da diretora do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Ufrgs, professora Ilma Brum, e da coordenadora de Politicas Públicas de Saúde da SMS, Gisele Martins Gomes.
“Este seminário é importante para podermos realmente entender que não somos todos iguais, temos singularidades que nos definem como indivíduo e precisam ser levadas em conta no atendimento em saúde”, afirma Vânia. “Em relação a migrantes e indígenas, precisamos olhar para as especificidades culturais, sociais e de idioma.” A gestora destacou o importante papel do Sistema Único de Saúde (SUS), que há 33 anos é uma garantia de acesso a atendimento no Brasil.
A antropóloga argentina Laura López reside no Brasil há 20 anos e está entre as palestrantes. Na apresentação, ela tratou das diferenças entre interculturalidade e multiculturalismo e das experiências de corpos deslocados no espaço e nos lugares, migrações e outros marcadores como raça e gênero. “Esse deslocamento traz à tona questões como aceitação, pois às vezes estamos em espaços nos quais nossos corpos não são aceitos, precisamos pensar sobre isso considerando também os espaços de produção em saúde”, afirmou.
O doutor em Estudos de Desenvolvimento Global, Hugo Méndez, professor da Universidad Autónoma de Baja California, no México, falou de preconceitos e estereótipos ao explicar o trabalho que desenvolve na fronteira do México com os Estados Unidos. O território passou a ser local de acesso da população haitiana em 2016. “Se construiu uma relação de controle do corpo, considerando o imigrante haitiano como um inimigo, pois se julgava que seriam portadores de enfermidades, além da diferença da cor da pele, era uma migração inédita na fronteira”, explicou. Quando recém chegados, os grupos eram encaminhados para a realização de exames como HIV/Aids, cólera e tuberculose, por exemplo.
Já o doutor em antropologia social pelo Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Handerson Joseph, atualmente professor da Ufrgs, explorou a questão da saúde a partir de uma dimensão biomédica. Ele abordou pesquisa feita no México, especialmente na fronteira com a Guatemala, acompanhando migrantes negros, haitianos, senegaleses, nigerianos e da República do Congo até a fronteira com os Estados Unidos. “Essas populações foram submetidas às múltiplas violências ao longo da viagem, principalmente na fronteira entre Panamá e Colômbia, onde sofreram violências sexuais e psicossociais”, relatou, destacando a saúde mental para problematizar como as emoções impactam na vida dos migrantes.
A programação segue ao longo do dia e inclui apresentações culturais das etnias Mbyá Guarani e Warao, exposição de artesanato indígena e feito por migrantes, além de café intercultural com culinária étnica. Nesta quarta-feira, serão debatidos temas como a influência das diferentes trajetórias na formação e na prática de profissionais de saúde que atuam em contextos interculturais e experiências de comunicação intercultural em saúde. O evento é feito com recursos de emenda parlamentar.
Temas em debate no Seminário Interculturalidade em Saúde:
- Saúde e Interculturalidade
- Imigração, desafios identitários e saúde no contato intercultural
- As violências físico-mentais e as emoções nas memórias das pessoas migrantes negras
- Religião, cosmologia e saúde: diferentes concepções de saúde e doença
- Estereótipos e preconceito etnicorracial: os desafios de profissionais migrantes na promoção da saúde
- Saúde e interseccionalidades: efeitos psicossociais do racismo e da xenofobia
- A influência das diferentes trajetórias na formação e na prática de profissionais de saúde que atuam em contextos interculturais
- Experiências de comunicação intercultural em saúde
- Promoção de saúde entre populações migrantes indígenas
- Experiência de projetos interculturais da Ufrgs e diferentes formas de mediação intercultural
Andrea Brasil