Sou guri do Centro da cidade. Nascido e criado na Rua Duque de Caxias. Nesta rua, situam-se centros administrativos de poderes do Estado. Estado democrático de Direito. A palavra democracia nos faz lembrar de seu nascedouro na Grécia antiga, mais precisamente em Atenas. Lá, tínhamos a “acrópole”, onde ficavam as edificações públicas mais importantes da cidade-estado,  e a “ágora”, que era o espaço público onde a vida da cidade realmente acontecia e a democracia era exercida em sua plenitude. Onde ocorriam reuniões para a tomada de decisões para o rumo da Cidade.

Traçando um paralelo com a sociedade moderna, os centros das cidades representam a “ágora” moderna. Para manter essa característica, é preciso que esses locais abriguem mais que sedes de instituições do poder estatal: é preciso que haja vida. Assim como já aconteceu em várias cidades do mundo, é de se dizer que o Centro da nossa Capital havia perdido um pouco de seu encanto, com o seu declínio máximo implementado pela pandemia. Por óbvio que não foi algo desejado, porém, aconteceu.

Mas eis que vemos, agora, surgir ventos de inovação, investimentos e esperança para a nossa nova ágora. São projetos como a reforma do quadrilátero central, a entrega da reforma da Praça da Matriz, a criação de um Centro Administrativo Municipal com o Paço Municipal transformado em museu, o edital do Cais do Porto, a demolição do “Esqueletão”, a reforma do Viaduto Otávio Rocha e o término da reforma do Gasômetro, como alguns dos novos elementos que poderão trazer novamente vida ao Centro da cidade.

A população de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul merecem ter o Centro de volta, e cada iniciativa para sua revitalização deve ser comemorada. Afinal, cada obra de recuperação do patrimônio integra um propósito maior, que é o de fazer com que o nosso Centro Histórico mantenha viva sua vocação de ser o espaço público por excelência. O espaço mais democrático e pulsante da cidade. Nossa Ágora, ontem, agora e amanhã.

Nelson Nemo Franchini Marisco - Procurador-geral adjunto de Domínio Público, Urbanismo e Meio Ambiente.

Artigo publicado na edição de 1º de março no jornal Zero Hora