Mais de mil pessoas superaram a situação de rua em Porto Alegre em 2025

14/12/2025 06:35
Alex Rocha/PMPA
ASSISTÊNCIA SOCIAL
Ao oferecer acolhimento provisório, acompanhamento psicossocial e orientação, as casas de passagem são uma etapa decisiva no processo de saída das ruas

Mais de mil pessoas em situação de rua conseguiram deixar essa condição ao longo de 2025 em Porto Alegre, a partir do fortalecimento das políticas públicas de assistência social, da ampliação das equipes de atendimento e da maior integração entre os serviços do município. Os dados são do período de janeiro a outubro deste ano.

A saída das ruas ocorreu por diferentes meios, conforme o perfil e a necessidade de cada pessoa:

- Abordagem Social (Seas) – O trabalho direto das equipes nas ruas, oferecendo escuta, orientações e encaminhamentos, possibilitou que 197 pessoas aceitassem apoio e iniciassem um processo de saída da rua;

Acolhimento institucional – Hospedagem temporária em abrigos e casas de passagem, com acompanhamento técnico, permitiu que 177 pessoas reconstruíssem vínculos e acessassem outras políticas públicas até deixar a situação de rua;

Auxílio Moradia – Benefício que viabiliza o acesso a moradia alugada, oferecendo estabilidade para reorganizar a vida. Em 2025, 284 beneficiários passaram a viver em endereço fixo por meio desse instrumento;

- Auxílio-Viagem – Apoio para que pessoas em situação de rua possam retornar com segurança às cidades onde vivem suas famílias ou redes de apoio. Neste ano, 302 pessoas utilizaram o benefício para recomeçar fora de Porto Alegre;

- Centros POP – Atendimento especializado para quem ainda está nas ruas, com serviços de higiene, guarda de pertences, alimentação, apoio técnico e encaminhamentos. A partir desse acompanhamento, 49 pessoas retomaram seus vínculos familiares.

Somadas, essas ações possibilitaram que 1.009 pessoas deixassem as ruas nos primeiros nove meses do ano. “A superação da situação de rua é um processo que exige tempo, vínculo, oportunidade e política pública estruturada. Esses números mostram que estamos no caminho certo, com equipes qualificadas, serviços acessíveis e foco na autonomia das pessoas”, afirma Matheus Xavier, secretário municipal de Assistência Social.

Ampliação das equipes - Um dos fatores centrais para o avanço foi a qualificação e a ampliação do trabalho de abordagem social. Atualmente, cada equipe conta com 11 facilitadores sociais, que atuam na busca ativa, no diálogo qualificado e na construção de vínculos com as pessoas atendidas em todas as regiões da Capital.

Além disso, os Centros POP 1 e 3 passaram a funcionar em horário estendido, das 7h às 19h, proporcionando maior acesso a serviços como acolhimento, higiene, alimentação, atendimento técnico e encaminhamentos para saúde, documentação e benefícios. Somados, os três Centros POP da Capital realizaram 86 mil atendimentos nos nove primeiros meses deste ano.

Operação Inverno - Em 2025, a Prefeitura de Porto Alegre reforçou a rede de acolhimento e ampliou horários de atendimento, garantindo proteção em noites com temperaturas mais baixas no período entre maio e setembro.

Foram 520 vagas disponíveis para pernoite, em horário ampliado (19h às 9h), em dois abrigos emergenciais e dois albergues permanentes. O Transporte Solidário garantiu deslocamento gratuito entre os abrigos e os Centros POP para mais de 11 mil passageiros no período.

Além do aumento de vagas nos abrigos e albergues, houve intensificação das equipes de abordagem nas ruas, principalmente no período noturno, para identificação de pessoas em situação de risco e encaminhamento imediato aos serviços.

Casas de Passagem - Em novembro, foi aberta a casa de passagem Flor&Ser, com 50 vagas para mulheres e pessoas LGBTQIA+ em situação de rua. A prefeitura mantém outras duas casas de passagem, com 100 vagas, em funcionamento, e deve abrir, nos próximos meses, duas casas com mais 100. No total, a modalidade somará 250 vagas.

Ao garantir acolhimento provisório, alimentação, acompanhamento psicossocial e orientação continuada, a casa de passagem se torna uma etapa decisiva no processo de saída das ruas. É ali que muitas pessoas conseguem retomar rotinas, recuperar a autoestima e acessar políticas públicas que viabilizam a reinserção social, como a inclusão em programas habitacionais, benefícios assistenciais e projetos de qualificação ou geração de renda.

Termo de Cooperação - A prefeitura, por meio das secretarias de Assistência Social, Saúde e de Segurança, firmou termo de cooperação com o Ministério Público do Rio Grande do Sul para agilizar o atendimento de casos graves, além da compra de vagas em Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) e comunidades terapêuticas, com prioridade para pessoas em situação de rua. 

Censo - Está em andamento, ainda, o Censo da População em Situação de Rua, realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e coordenado pela Secretaria Municipal de Inclusão e Desenvolvimento Humano (SMIDH).

O levantamento, com aporte de R$ 1,93 milhão do município, oferecerá um diagnóstico mais preciso desta realidade em Porto Alegre, já que as estimativas atuais - cerca de 5 mil pessoas em situação de rua - baseiam-se em dados autodeclaratórios do Cadastro Único, que carecem de atualização frequente.

Contexto complexo - As pessoas em situação de rua representam um desafio complexo não apenas na capital gaúcha, mas em cidades de todo o mundo. O tema envolve múltiplos fatores, como a dependência química, o agravamento de problemas de saúde física e mental, a ruptura de vínculos familiares, a falta de acesso à moradia e a oportunidades de trabalho, além de contextos de extrema vulnerabilidade social.

Esta realidade exige políticas públicas contínuas, integração entre diferentes áreas e o engajamento permanente da sociedade para ampliar soluções que tenham resultado efetivo.
  

Gilmar Martins