Alex Rocha/PMPA

Encerrou-se nesse sábado, 2, a primeira experiência do Porto Cervejeiro, projeto criado pelo Pacto Alegre com o objetivo de estruturar, no futuro, uma rota turística da cerveja na Capital. Durante quatro sábados, nove cervejarias e microcervejarias ofereceram uma programação especial com visitas guiadas, degustações e harmonizações, cardápios especiais e uma série de atividades pensadas para atrair e envolver os visitantes na cultura cervejeira. Os resultados serão avaliados ao longo desta semana pelas entidades impulsionadoras (veja quem são abaixo), mas as primeiras impressões indicam que a iniciativa foi fundamental para ampliar a visibilidade do segmento – e inspirar a criação de novos atrativos. (fotos)

Para os cervejeiros, a iniciativa deixou aprendizados importantes. Um deles tem a ver com a importância de se proporcionar experiências que vão além do ato de consumir a bebida – tais como visitas guiadas, degustações e outras atividades. Na Hatha Bier, por exemplo, era possível conhecer de perto o método de produção em barricas de carvalho – que garantem um sabor diferenciado à bebida. Na Al Capone, os visitantes tinham a oportunidade não só de ver, mas também de manusear e experimentar o malte puro, ainda dentro da saca. Com esse espírito, todas as cervejarias conseguiram testar novas formas de atrair o público.

Outro benefício foi a divulgação. Sócio da 4Beer – Cerveja e Cultura, o empresário Caio de Santi diz que a iniciativa não chegou a provocar um aumento expressivo na movimentação de clientes, mas evidenciou o potencial de divulgação do segmento. “A repercussão na mídia foi excelente. Agora, temos de trabalhar para que esse esforço se torne permanente, com material de divulgação nos hotéis e uma articulação mais próxima com as operadoras de turismo da Serra Gaúcha”, opina.

Segundo o vice-presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), Sandro Zanette, a visibilidade do Porto Cervejeiro é fundamental para estimular a busca de novos diferenciais. “A iniciativa ajudou os cervejeiros a inovarem e se diferenciarem em relação às grandes cervejarias”, explica ele. Algumas cervejarias, por exemplo, já teriam manifestado interesse de continuar abrindo aos sábados para visitação e degustações. “É uma porta que se abriu para que elas possam desenvolver mais cursos e atividades, não só para quem deseja consumir, mas também para quem tem a pretensão de empreender”, diz Zanette.

Foi o que aconteceu na DNA Beer, cujo sócio-proprietário é Rafael Kunst. Ele conta que o Porto Cervejeiro ajudou a acelerar alguns projetos da cervejaria. “Há tempos tínhamos a intenção de abrir a nossa fábrica para visitação aos sábados e, de certa forma, o Porto Cervejeiro acabou sendo uma desculpa para que colocássemos isso em prática”, explica. Na DNA Beer, os visitantes eram convidados a fazer uma imersão na história das cervejas do mundo, com vídeos e palestras sobre os métodos de produção da bebida e a construção dos nomes e rótulos da casa. Havia, ainda, a possibilidade de se sugerir um nome para o mais novo rótulo da marca.

Aprendizados importantes - Para o secretário municipal de Comunicação Social, Orestes de Andrade Jr, o Porto Cervejeiro deixou aprendizados importantes para consolidar uma cultura de visitação às cervejarias da cidade.“Ficou claro que as pessoas querem, sim, vivenciar essas experiências e se envolver não só com a bebida, mas também com os métodos de produção e a relação da cerveja com a gastronomia”, explica.

Mas essa cultura não nasce de forma imediata. Ao contrário: é resultado de um trabalho permanente, de longo prazo, e com resultados que aparecem de forma gradual. “A referência nesse sentido é o Vale dos Vinhedos”, aponta Andrade Junior. Dez anos atrás, diz ele, o enoturismo da Serra Gaúcha recebia cerca de 180 mil visitantes por ano. Hoje, conforme dados de 2018, já são mais de 400 mil. “A vocação enoturística da Serra vem de décadas. Mesmo assim, a movimentação mais que dobrou nos últimos anos, e isso só aconteceu quando as vinícolas entenderam que precisavam oferecer experiências novas aos visitantes”, aponta.

A lição é que Porto Alegre deve continuar insistindo. Nesse sentido, o Gabinete de Comunicação Social da Prefeitura já estuda a possibilidade de realizar, em breve, uma ação com jornalistas especializados em cervejas – para que venham conhecer os diferenciais das cervejarias da cidade.

Na visão do secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Eduardo Cidade, o Porto Cervejeiro ajudou a identificar alguns requisitos para que o segmento se fortaleça. Um deles é a capacidade de articulação com as operadoras de turismo. “É fundamental que tenhamos uma integração maior com o trade turístico, de modo que as atrações do nosso polo cervejeiro entrem nos roteiros que são comercializados em diferentes partes do Brasil e do mundo. É desta forma que teremos um impulso real na economia do setor”, sustenta. Um passo importante nesse sentido será dado durante o Festuris – Festival de Turismo, que acontece entre os dias 7 e 10 de novembro, em Gramado. A Prefeitura de Porto Alegre estará presente no evento – considerado o maior do setor na América do Sul – com um estande próprio. “E um dos nosso principais ‘produtos’ em exposição será justamente o polo cervejeiro”, aponta Cidade.

Participaram da ação as cervejarias 4Beer – Cerveja e Cultura, Al Capone Cervejaria Artesanal, Babel Cervejaria, DNA Beer, Hatha Beer, Irmãos Ferraro Microcervejaria, Cervejaria Porto Alegrense, Cervejaria Seasons e Cervejaria Staunen Bier. O projeto faz parte do Pacto Alegre, que reúne universidades, governo, setor privado e entidades não-governamentais em torno de uma agenda estratégica de desenvolvimento da cidade e melhoria da qualidade de vida a partir da inovação. A ação contou também com os seguintes impulsionadores: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE), Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Associação Gaúcha de Microcervejarias, 4all, POA Inquieta e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).