Porto Alegre detalha etapas técnicas e legais para obter financiamentos com bancos internacionais
Quando se fala em financiamento internacional, a imagem mais comum é a do anúncio do valor em dólares ou euros. Mas, até que os recursos estejam disponíveis para as obras e projetos planejados, há um caminho longo, rigoroso e repleto de etapas de análise técnica, jurídica e política. Nos últimos anos, a Prefeitura de Porto Alegre passou por esse processo em quatro programas de desenvolvimento urbano e social, com apoio de organismos internacionais de fomento.
Tudo começa com a carta-consulta, documento em que a prefeitura apresenta, de forma estruturada, a proposta de programa a ser financiado com garantia da União, fator relevante para determinar a taxa de juros da operação de crédito. Nela estão descritos o problema público que se pretende enfrentar; os objetivos; as obras e ações planejadas; a população beneficiada; o valor estimado do financiamento e das contrapartidas municipais; e os resultados esperados em médio e longo prazo. Registrada no sistema federal de financiamentos externos, a carta-consulta passa a ser analisada pelos órgãos da União responsáveis pela política de crédito ao setor público.
Análise técnica e decisão da União - Depois de protocolada, a carta-consulta é submetida a uma avaliação técnica do governo federal, que verifica se o projeto está alinhado às políticas nacionais de desenvolvimento, se o município tem capacidade de endividamento para assumir aquele financiamento e se o desenho do programa é consistente do ponto de vista técnico, social, ambiental e fiscal. Com parecer favorável, a proposta é levada à Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex), órgão colegiado que reúne representantes das áreas de Planejamento e Orçamento, Fazenda e Relações Exteriores.
É a Cofiex que autoriza (ou não) a preparação do financiamento em parceria com o banco internacional. Uma vez aprovada a carta-consulta, o financiamento externo entra na fase de preparação, em que o município e o agente financeiro passam a trabalhar em conjunto, em sucessivas reuniões técnicas. Em paralelo, o projeto de lei autorizativa é protocolado e votado na Câmara Municipal.
Preparação - Após a aprovação da carta-consulta, um financiamento externo passa à fase de preparação, composta por uma série de reuniões periódicas em que os projetos são discutidos e adequados a critérios elencados pelos agentes financeiros. Superada essa fase, a proposta de financiamento com os projetos é remetida ao conselho do agente financeiro, que determina (ou não) a continuidade da negociação e preparação dos projetos.
Na prática, é nessa etapa que o desenho preliminar se transforma em projetos de engenharia mais detalhados, estudos sociais e ambientais compatíveis com as normas do banco e da legislação brasileira e plano de execução física e financeira, com cronograma e metas mensuráveis. Esta fase culmina nas minutas contratuais.
Negociações e assinatura do contrato - Com a preparação consolidada e o aval interno do banco, o processo avança para a esfera política e jurídica. Tem início, então, o processo de negociação, que envolve a prefeitura, o agente financeiro, a União e o Senado Federal, etapas que antecedem a assinatura do contrato, com definição de prazos, condições financeiras, indicadores de desempenho e obrigações de transparência. Somente depois da conclusão desse ciclo é que os recursos passam a ser efetivamente liberados, conforme o avanço das obras e ações previstas no programa.
Transparência - Embora pareça um caminho longo e burocrático, todas essas etapas existem para garantir que o município não assuma dívidas sem planejamento. Elas asseguram que cada real do financiamento esteja vinculado a projetos consistentes, com impacto comprovado na vida da população e protegem a cidade, o banco e a União em relação a riscos sociais, ambientais, fiscais e jurídicos.
Esse processo dá transparência ao uso de recursos internacionais, com controle de diferentes instâncias. Ao cumprir rigorosamente esse percurso, Porto Alegre se credenciou como parceira confiável de cinco bancos internacionais e ampliou sua capacidade de investir em mobilidade, drenagem, habitação, desenvolvimento social e revitalização urbana, entre outras agendas estratégicas.
Gilmar Martins
