Atendimento para a dengue é tema de capacitação para profissionais de saúde
Mais de cem profissionais que atuam na rede pública atendendo pacientes com suspeita de dengue participaram na quinta-feira, 4, de encontro de formação continuada. Os temas tratados foram manejo clínico, características do Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus, e a vacina Qdenga. Também foi feito relato da experiência de enfrentar a dengue com a estratégia da UPA Moacyr Scliar, ao implantar tenda exclusiva para atender pacientes.
A capacitação foi promovida pela Diretoria de Vigilância em Saúde, com apoio do Laboratório Takeda, e reuniu profissionais de unidades de saúde, de prontos-atendimentos e da Vigilância em Saúde. “A dengue é uma doença muito dinâmica; suspeitar desde o início e manejar pacientes de forma adequada é essencial para o desfecho do caso”, disse a diretora de Vigilância em Saúde, Aline Medeiros, nas boas-vindas, enfatizando que aprender com a experiência dos colegas e ter mais certeza do manejo clínico são fundamentais para desfechos favoráveis.
A infectologista dra. Marília Severo, que atua na Santa Casa e é professora da Faculdade de Medicina na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, fez a primeira palestra. Para ela, todo profissional precisa pensar em dengue na hora de atender pacientes. “Conhecer a doença, conhecer a história de pacientes e bem avaliar a pessoa no primeiro atendimento é essencial para um desfecho favorável”, destacou. A médica frisou a importância de conscientizar a população sobre o potencial de gravidade da doença e da busca por atendimento de saúde nos primeiros sintomas. Para profissionais que atuam na linha de frente, disse que rapidez e agilidade garantem resultados positivos na evolução de cada caso. Para Severo, cada paciente tem uma história e uma clínica; cuidar de cada pessoa deve ser um processo individualizado, a partir de informações obtidas no atendimento. “O serviço de saúde precisa ter credibilidade junto à população. Só assim pacientes voltarão à unidade de saúde para as revisões necessárias durante o tratamento”, resumiu a convidada.
O biólogo Tiago Fazolo, da Diretoria de Vigilância em Saúde, destacou aspectos da biologia do mosquito e enfatizou a necessidade de profissionais atualizarem os cadastros de pacientes na ocasião da notificação do caso no sistema, especialmente endereço e contatos. “Todo trabalho da vigilância ambiental é feito a partir do endereço de pacientes”, disse. Entre as atividades desenvolvidas estão as visitas domiciliares para eliminar criadouros, ações para pulverizar larvicida e inseticida para diminuir o risco de transmissão viral. “O tempo oportuno é importante, e o cadastro atualizado elimina o risco de ações em locais diferentes aos da infecção”, alertou.
A vacinação contra dengue foi o terceiro tema da tarde. A vacina em oferta na rede pública de Porto Alegre é a mesma oferecida pela rede privada, a Qdenga, do Laboratório Takeda. Ela garante proteção aos quatro sorotipos de vírus da dengue e pode ser administrada com outras vacinas do calendário do público-alvo. Nas unidades de saúde, a vacina está disponível para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. O esquema prevê duas doses, com intervalo de três meses. A proteção continuada é de 4,5 anos. Até 1º de dezembro, foram aplicadas 40.291 primeiras doses (55,2% do público-alvo) e 18.919 segundas doses — 25,6% do público-alvo, que é de 72.898 crianças e adolescentes de 10 a 14 anos na cidade).
A tarde se encerrou com o relato do dr. Vinicius Monteiro, médico da UPA Moacyr Scliar e do Hospital Vila Nova. Ele fez o relato do atendimento na tenda da UPA entre 17 de abril e 19 de junho deste ano. No período, foram prestados 4.610 atendimentos no local com foco principal da hidratação precoce para prevenir complicações da dengue. Do total de atendimentos, 88% (ou 4.061) receberam atendimento médico completo. O número de casos confirmados da doença no local foi de 1.565. Pacientes percorriam uma jornada de atendimento na tenda desde a triagem, com classificação de risco em quatro grupos, passando pela notificação do caso, hidratação e primeiros cuidados. Essas etapas ocorreram antes do atendimento médico. Pacientes dos grupos C e D eram removidos para a UPA ou outros hospitais. Os grupos A e B receberam todo o atendimento na Tenda de Hidratação. As faixas etárias mais atendidas foram de 20 a 49 anos, com predomínio de mulheres pacientes (56,8%). Do total de pacientes, 82,4% eram de Porto Alegre, 14% de Alvorada e 4% de outros municípios. A experiência foi considerada bem-sucedida pela equipe de trabalho e gestão. “Tiramos como lições aprendidas que a separação do fluxo é essencial, que o protocolo salvou vidas e tempo de profissionais e pacientes, que a hidratação precoce é a melhor prevenção e que contar com a participação de pacientes no seu cuidado garante o retorno da pessoa quando isso é necessário”, resumiu Monteiro.
Porto Alegre enfrentou epidemia de dengue nos últimos três anos. Em 2025, o número de casos da doença ultrapassou 22 mil, com ocorrência ao longo de todo o ano. Para a enfermeira Raquel Rosa, que é responsável pela vigilância da dengue na Vigilância em Saúde, o cenário da doença mudou de forma expressiva desde 2022. “Garantir um atendimento adequado, em tempo oportuno, com notificação na hora do atendimento são essenciais para que a vigilância epidemiológica e a ambiental adotem as medidas necessárias para o controle da doença e minimizar o risco de morte por dengue na cidade”, disse, ao justificar o encontro.
Andrea Brasil