Pacientes atendidos no ambulatório pós-Covid têm acompanhamento psicológico
O acompanhamento de questões psicológicas aparece como uma necessidade em grande parte dos casos de pacientes atendidos no ambulatório de reabilitação pós-Covid-19, que funciona no Centro de Saúde IAPI (rua Três de Abril, 90, bairro Passo d’Areia). São quadros de transtorno de estresse pós-traumático, que podem apresentar fadiga, depressão, síndrome do pânico, insônia, ansiedade, irritabilidade, medo sem explicação específica ou estado de catatonia.
Como forma de auxiliar no plano terapêutico de pessoas que passaram pela doença, a psicóloga Luana Bordin Lauffer, da Secretaria Municipal de Saúde, vem estudando artigos referentes à saúde mental em pandemias e situações de calamidade pública. “É uma experiência gratificante poder ajudar a aliviar a dor daqueles que tiveram suas vidas interrompidas pelo vírus, acarretando sequelas físicas e emocionais”, diz a profissional.
O acompanhamento ocorre individualmente para casos de abalo emocional grave, com o auxílio de residentes em saúde mental da Unisinos, supervisionados pela psicóloga. Também é realizado em grupo, acompanhado por alunos de enfermagem de saúde mental da mesma universidade. Conforme Luana, independente da gravidade, os traumas são vivenciados de modo particular na psique, em intensidade, frequência e duração. “Por hipótese, percebo a sensação de que algo muito terrível e agressivo aconteceu – no caso, a Covid-19 – e essa passagem necessitou de muita luta interior. Diante disso, ocorreu uma desfragmentação ou dissociação de personalidade”, avalia.
Em muitos casos, os pacientes possuem comorbidades, que se ampliaram no quadro atual. Outros precisam conviver com a perda de parentes, vínculos afetivos próximos de muito significado, além de problemas financeiros pela perda ou afastamento do emprego. “É evidente que o coronavírus despertou sentimentos de frustração, punição, limitação e fragilidade diante da vida, uma vez que esboçou um ensaio na passagem viral sobre o corpo físico, a finitude do contato existencial, com a possibilidade real da morte ou do luto”, relata Luana.
Como funciona – O ambulatório de reabilitação pós-Covid-19 mantém o acompanhamento de 73 pacientes. O serviço entrou em operação dia 12 de julho e oferece atendimento em fisioterapia, psicologia, nutrição, enfermagem, acupuntura e osteopatia a pessoas que apresentam sequelas de diferentes gravidades em razão do coronavírus. O encaminhamento é feito após consulta nas unidades de saúde, quando os profissionais avaliam e verificam se há necessidade de direcionamento ao ambulatório. Casos mais graves são encaminhados ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que possui esse serviço em atividade há mais tempo.
Andrea Brasil