Alunos de escola especial participam de projeto de memória local
Sete turmas de cinco escolas municipais de Ensino Fundamental de Porto Alegre participam neste ano do programa Memória Local na Escola, realizado pelo Museu da Pessoa em parceria com o Instituto Avisa Lá, ambos de São Paulo. A proposta mistura formação de professores com atividades pedagógicas dirigidas aos alunos que resultam no registro da memória de seus familiares e da comunidade onde estão inseridos. Nesta terça-feira, 27, uma das etapas do programa foi realizada na Escola Municipal Especial de Ensino Fundamental Elyseu Paglioli, no bairro Cristal, que atende 140 crianças e jovens com deficiência física e intelectual.
Foi o dia da entrevista para coleta das informações, que depois serão registradas em textos, desenhos ou pinturas, que por sua vez irão compor uma exposição e um livro digital produzido pelo Museu da Pessoa, a ser distribuído a bibliotecas, professores e moradores. Conforme a proposta do programa, a conversa proporciona a reflexão sobre a experiência de vida dos mais velhos e os alunos passam a ser agentes da história ao divulgar as narrativas de vida com textos e desenhos. “São práticas que desenvolvem habilidades de escuta, leitura, escrita e desenho, e ainda instigam a curiosidade sobre a realidade em que vivem”, explica a técnica pedagógica que acompanha o projeto pela Secretaria Municipal de Educação, Caroline Dourado.
Na Elyseu Paglioli, a atividade foi adaptada para contemplar a diversidade da escola, resultando em um ambiente ainda mais rico em histórias de vida e superação. Os familiares – pais, mães, avós – fizeram duplas com os alunos, os representando e falando por eles. Na turma da professora Rosângela Garcia, que reúne alunos entre 10 e 15 anos e faz a preparação para o ingresso no segundo ciclo, a metade dos alunos não fala e a outra metade ainda é muito inibida. “Esse foi um momento clássico, pois os pais deram voz a seus filhos, falando por eles, e o envolvimento da família sempre faz a diferença. A proposta é tão interessante que, em uma sala com seis autistas, normalmente inquietos, todos pararam para ouvir os demais falarem”, destaca a professora.
Previamente preparadas por meio de atividades do programa, as perguntas giraram em torno de temas como infância, brincadeiras e comidas preferidas, o primeiro namoro, as características da família e do bairro em que cresceram, as lembranças da escola e professores, entre outras curiosidades. Após, estabeleceu-se uma roda de conversa, em que todos trocaram ideias sobre o trabalho dos professores e a evolução dos alunos. Meninos que passavam o tempo no pátio e no corredor já estão hoje em sala de aula. Outros conseguiram adquirir o movimento de pinça com as mãos, abrindo novas possibilidades. Os desenhos antes minúsculos e soltos agora já ocupam toda a folha. Quem não consegue recortar, já consegue pedir auxílio e realizar o que pretende. E tem até quem já faz o tema sozinho, sem precisar ser lembrado pelos pais.
“Sempre respeitamos o modo de aprender de cada aluno. Somos uma escola especial, mas somos escola”, orgulha-se a professora. “Desenhar do maior para o menor é sequência lógica; traços verticais e horizontais representam um avanço também para seus próprios movimentos corporais. Não basta ler e escrever, e sim se situar no mundo como um todo”, completa o professor de Artes, Ernani Chaves.
O programa Memória Local na Escola é desenvolvido há 15 anos e já alcançou 70 municípios em todo o país. Em novembro, a Secretaria Municipal de Educação deverá realizar o evento de exposição dos trabalhos e de lançamento do livro virtual. As demais escolas participantes são Martim Aranha, no bairro Santa Tereza; Nossa Senhora de Fátima,no bairro Bom Jesus; e América e Alberto Pasqualini, na Restinga.
Gilmar Martins